sexta-feira, 7 de abril de 2017
Reflexão: O que é a Matrix ?
25
dez, 2015
O
que é a Matrix? Essa é a pergunta feita por Neo, mas de tão
intrigante que é, o telespectador atento a internaliza como sua e,
assim, passa a questionar-se. Morpheus, o grande filósofo da obra
cinematográfica, diz em dado momento a Neo que somente ele pode
descobrir, de fato, o que é a Matrix, do mesmo modo, que somente
cada um de nós pode descobrir essa verdade.
“Infelizmente,
é impossível dizer o que é a Matrix. Você tem de ver por si
mesmo”.
Sendo
assim, a descoberta da realidade é um ato individual, ainda que
possa ser influenciado por outrem, e que depende de vontade e
coragem. É muito mais fácil permanecer seguindo a rotina cotidiana,
fazendo parte de uma engrenagem, como gostam de falar os
positivistas. A dificuldade reside em enfrentar as condições dadas,
a fim de que se possa atingir a consciência do real, tornando-se um
inadequado social.
A
escolha entre a pílula azul e a vermelha é o que determina se você
quer saber o que é a Matrix. Se você decidiu pela pílula azul, por
favor, não continue. Caso, ainda esteja lendo, escolheu a vermelha.
Sábia escolha. Seguem as palavras de Morpheus sobre o que é a
Matrix:
Neo:
O que é a Matrix?
Morpheus:
Você quer saber o que é a Matrix? Matrix está em toda parte […]
é o mundo que acredita ser real para que não perceba a verdade.
Neo:
Que verdade?
Morpheus:
Que você é um escravo, Neo. Como todo mundo, você nasceu em um
cativeiro. Nasceu em uma prisão que não pode ver, cheirar ou tocar.
Uma prisão para a sua mente.
A
Matrix, dessa forma, é a construção artificial de uma realidade
que se reveste de aparências determinadas pela nossa mente. É uma
hiper-realidade, uma espetacularização, dada pelos dominantes e que
aceitamos como verdadeira. Como prisão “tradicional”, haveria
repulsa e todos combateriam tal prisão. No entanto, quando se criam
gaiolas enfeitadas e cheias de distrações, passamos a não perceber
(ou não querer perceber) que, embora existam “atrativos”, ainda
estamos em uma prisão. E como toda prisão, há controle, coerção
e cerceamento de liberdade.
Todos
os elementos que formam a Matrix não passam de manipulações
sígnicas feita por aqueles que detêm o monopólio das relações de
força, para usar um termo de Foucault, e que nós aceitamos como
verdadeiras. Assim, internalizamos as coisas a partir de seu valor
simbólico, o que leva, por consequência, a um mundo de simulacros.
Embora,
o simulacro seja uma versão simulada da realidade, a sua construção
se dá de uma forma tão cuidadosa que a ilusão passa a substituir o
real no imaginário das pessoas. Estas ficam condicionadas de tal
maneira que se recusam a aceitar que aquele mundo é apenas uma
ilusão. Morpheus chega a alertar Neo para isso, afirmando-lhe que
alguns indivíduos estão tão habituados àquela realidade que
defenderão o sistema.
Esse
fato demonstra que a força do dominante consiste no nosso
consentimento, uma vez que aceitamos uma realidade que nós é
passada sem o menor poder de questionamento. Pelo contrário,
procuramos aumentar a nossa dependência e alienação ao sistema, o
que em uma sociedade de consumo, obviamente demonstra-se pelo
consumismo.
A
de se considerar que o problema não é o consumo, mas sim, o valor
simbólico que é dado às mercadorias, criando a hiper-realidade da
Matrix. Essas ideias de Baudrillard podem ser percebidas também em
Marx, a saber, na relação de fetichismo da mercadoria, em que as
pessoas passam a atribuir às mercadorias um valor quase divino, as
consumindo pela sua transcendência, isto é, pela capacidade que
certas mercadorias têm de elevar o indivíduo perante os outros.
O
que não percebemos (ou não queremos perceber), mais uma vez, é que
a Matrix, a nossa sociedade consumista, cria um exército de servos
voluntários, que aceita os grilhões impostos pelos dominantes
através da publicidade, como se fossem soluções mágicas de
felicidade. Tomando suas pílulas azuis todos os dias, distanciam-se
de si mesmos e, portanto, do autoconhecimento, tão necessário à
libertação, já que, como dito, a libertação é individual e se o
indivíduo não busca autoconhecer-se a fim de pensar de forma
crítica o mundo que o circunda, torna-se impossível enxergar a
Matrix.
A
decisão entre sair ou permanecer na caverna é difícil desde
Platão. Entretanto, a coragem é o que separa as almas livres dos
meros autômatos que nos tornamos. A coragem é que faz um homem
decidir tomar a pílula vermelha e livrar-se das amarras que tornam o
mundo mais “bonito”. A coragem é que faz o homem manter-se
erguido percebendo a decadência da humanidade fora da
hiper-realidade. A coragem é o que permite que alguns homens lutem
pela liberdade daqueles que se acham livres por poderem escolher
entre o Bob’s e o McDonald’s. A coragem é o que falta para
aqueles que insistem em continuar em dobrar a colher e não percebem
que são eles que se dobram, pois como disse Goethe:
“Não
existe pior escravo do que aquele que falsamente acredita estar
livre.”
http://caminhodecura.blogspot.pt/2017/04/o-que-e-matrix-sociedade-de-consumo-por.html
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário