Adotar a atitude de olhar o que se passa dentro de você significa viver com o interesse de investigar a questão: “Quem sou eu?”.
sexta-feira, 8 de março de 2019
Esse é o segredo
Adotar a atitude de olhar o que se passa dentro de você significa viver com o interesse de investigar a questão: “Quem sou eu?”.
Quando
você se depara com alguma forma de conflito interno (como o medo,
por exemplo) e reconhece isso sem negar, sem
fugir, sem reprimir, então, você tem aqui algo muito valioso, que é a aproximação desse olhar, viver nessa proximidade, acolher,
adotar, aceitar essa atitude compassiva, benevolente e paciente de
permitir que isso seja visto.
Não
existe nada que funcione como isso, não existe nenhuma outra coisa
que possa ser feita. Qualquer movimento que você faça será com
base no conflito, para produzir mais conflito; com base na confusão,
para produzir mais confusão. Esse movimento é de fuga, o qual pode
trazer um alívio momentâneo, mas o conflito permanece. A repressão
pela fuga é uma das armadilhas da mente egoica.
É
importante que você veja o que tem diante de você. Isso é como uma
cobra que entrou no seu quarto. Se você sabe que ela entrou, seu
dever é encontrá-la e não ir para debaixo do cobertor, pois isso
não vai resolver. Mesmo que não queira olhar, você já sabe que
ela está no quarto. O medo está presente e você sabe que o
cobertor não vai salvá-lo. Mas, se você está em cima da cama e
consegue vê-la completamente, você já está a um passo da
libertação do medo. O mesmo ocorre com o movimento da mente egoica: se
você não negá-lo, se você não se esconder, você poderá vê-lo.
Mas, se sua atitude é de negação, de se esconder, de tentar fugir
disso, isso continuará assombrando-o, assustando-o.
Estou
lhe mostrando como lidar com essa entidade ilusória, esse falso
“eu”, esse ego – que, aqui, é essa “cobra no quarto”. A
questão é perguntar para si mesmo: “O que é isso? Quem é esse
com medo?”. Se você faz isso, pode ver esse movimento, esse
conjunto de pensamentos, sentimentos e sensações no corpo bastante
desagradáveis. Quando pode ver isso, você consegue ver a “cobra”.
Você ainda não está livre, mas deu o passo mais importante para ir
além do medo, para ir além do ego. Na verdade, isso tudo é um
espetáculo criado pela mente.
Se
você faz isso, consegue ver O que É, e, então, você percebe a
“cobra” partir. Você não vai tentar matar a “cobra”, não
vai tentar fazer nada com ela. Essa “cobra”, dentro dessa figura
de linguagem, é o movimento imaginário do ego, com suas reações
bastante assustadoras. Aqui, não importa o quanto essa sensação
seja assustadora ou desagradável... Olhe essas reações.
Tudo
é um grande espetáculo para você, para que você seja um
espectador, uma testemunha, um observador. Contemple suas reações,
contemple sua negação, seu desejo de fugir, seu medo. Quando você
começa a perceber, a reconhecer sua negação, é o começo da
aceitação. É necessário você se tornar um expert,
um verdadeiro mestre em lidar com o que se passa aí dentro, e
ninguém pode fazer isso no seu lugar. Enquanto você não assumir
essa total responsabilidade (eu tenho chamado isso de “honestidade”),
nada de muito profundo acontecerá.
O
que estou dizendo é que o medo, o conflito e o sofrimento são seu
ego, a “cobra no quarto”, o “monstro”. Um “monstro” que,
na verdade, você acompanha. Não é ele que o acompanha, não é ele
que está com você, é você que o está acompanhando, é você que
está dando realidade ao seu ego.
A
princípio, você acha que o ego é o seu inimigo, e eu estou dizendo
que o ego é a sua criação, uma ilusão criada pela força do
hábito de viver nesse modelo há muito tempo. É necessário
desconstruir isso!
"A
princípio, você acha que o ego é o seu inimigo, e eu estou dizendo que o
ego é a sua criação, uma ilusão criada pela força do hábito de viver
nesse modelo há muito tempo. É necessário desconstruir isso!"
Assim,
não é o ego que o acompanha, é você que o constrói, que o
sustenta. Você vê a “cobra” entrar no “quarto”, e, em vez
de acompanhar o seu movimento, você se esconde debaixo das
“cobertas”, porque não está disposto a olhá-la.
Você
tem sustentado esse ego, esse medo, esse sofrimento, esse falso “eu”.
Quando você para de fugir, de negar, que é quando começa a
aceitação, você passa a ter a postura da contemplação, que é a
sua posição natural de desidentificação, de não confusão com o
que os sentimentos, sensações e pensamentos “dizem”. Assim,
esse “monstro”, esse “usurpador” criado por você mesmo, por
seus pensamentos e sensações corporais, o qual o mantém separado
do Reino do Silêncio, da Paz, da Liberdade, da Alegria, desaparece.
Isso acontece porque, na realidade, ele nunca foi real.
Então,
comece a acolher esse “monstro” e diga: “Ok! Fique à vontade.
Deixe-me olhar para você”. Não importa o tamanho dessa “cobra”,
nem quão assustadora ela pareça ser; não importa quantas garras
tenha esse “monstro”, nem qual seja a sua aparência... Quando
nenhuma parte dessa “cobra” ou desse “monstro” fica oculta,
não há nenhuma parte em você que possa se prender ou se
identificar de novo com isso.
A
ilusão é a cegueira que o mantém ligado ao “monstro”. Por
inconsciência, falta de atenção, de Meditação, você está
sustentando-o. Na Índia, chamam esse “monstro”, essa “cobra”,
de “ilusão da ignorância”.
Então,
você precisa sair debaixo da “coberta”, sair da sua tentativa de
fuga imaginária e olhar para isso. Esse é o segredo! Isso só é
possível nessa aproximação de acolhimento, de contemplação.
Dessa forma, você estará voltando à sua posição natural, ao
Coração, e saindo da mente. Mesmo que o corpo ainda sinta alguma
coisa, já não haverá mais valorização de história, de
pensamentos. Aquilo que o corpo estiver sentindo, logo vai
desaparecer também, porque não estará sendo alimentado, não
haverá mais essa ligação com o “monstro” – o pensamento, a
emoção, a percepção ou o sentimento terá sido quebrado.
Conseguem
ver isso? Exercício de casa para vocês! Dá para praticar isso
momento a momento, e vocês terão muita oportunidade de praticar
essa desidentificação, de olhar pacientemente para si mesmos, para
suas reações, sentimentos, sensações, percepções, para toda
história criada por essa entidade imaginária, ilusória, que parece
estar acompanhando você, que parece estar no seu “quarto”,
enquanto que, na realidade, é você que a acompanha, que a sustenta,
que a faz tão assustadora, tão perigosa.
Por
que é muito eficaz o que eu estou lhe dizendo? Pelo fato de que
aquilo que pode ser visto não é você. Se você pode ver algo, dele
você pode se desidentificar, e esse é o seu trabalho. Se você pode
ver, pode deixar ir embora.
Vou
repetir: você não vai matar o “monstro”, não vai matar a
“cobra”, não vai matar o ego, porque não tem nenhum ego,
nenhuma “cobra”, nenhum “monstro” para morrer. Quando não há
mais partes ocultas, escondidas, aí – nem pensamento, nem emoção,
nem sensação, percepção, medo, ansiedade e tudo mais –, então
nada disso pode mais tocá-lo. Você é essa Presença, essa
Consciência, essa Realidade Absoluta, vivendo no Reino da
Felicidade, da Liberdade, da Paz, da Alegria, da Inteligência.
*Transcrito
a partir de uma fala em um encontro online na noite do dia 28
de Janeiro
de 2019
– Encontros online todas as segundas, quartas e sextas as 22h
(exceto em períodos de retiros) – Para informações sobre o app
Paltalk e instruções de como participar acesse o link:
http://mestregualberto.com/agenda/encontros-online
http://marcosgualberto.blogspot.com/2019/03/esse-e-o-segredo.html
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