quinta-feira, 14 de dezembro de 2017
Libertando-se da sua mente...
Sentir
a própria presença
não
é um pensamento,
é
algo que surge de um ponto
além
da mente.
O
que você quer dizer exatamente por “observar o pensador”?
Quando
alguém vai ao médico e diz: “Ouço uma voz dentro da minha
cabeça”, provavelmente será encaminhado a um psiquiatra. De
uma forma ou de outra, praticamente todas as pessoas ouvem uma voz,
ou algumas vozes, o tempo todo dentro da cabeça. São os processos
involuntários do pensar – que acreditamos que não podemos
interromper –, manifestando-se como monólogos ou diálogos
contínuos.
Você
já deve ter cruzado na rua com pessoas “doidas” falando sem
parar ou resmungando consigo mesmas. Isso não tem nada de diferente
do que acontece com você e com outras pessoas “normais”, exceto
que vocês não falam alto. A voz comenta, especula, julga, compara,
desculpa, gosta, desgosta, etc. A voz não precisa ser relevante para
a situação do momento, pois ela pode estar revivendo o passado
recente ou remoto, ou ensaiando, ou imaginando possíveis situações
futuras. Neste último caso, ela imagina sempre as coisas indo mal e
com resultados desfavoráveis. É o que se chama de preocupação. Às
vezes, essa trilha sonora e acompanhada de imagens ou “filmes
mentais”.
Mesmo
que tenha alguma relação com o momento, a voz será interpretada em
termos do passado. Isso acontece porque a voz pertence à mente
condicionada, que é o resultado de toda a nossa história passada,
bem como dos valores culturais coletivos que herdamos. Assim, vemos e
julgamos o presente com os olhos do passado e construímos uma imagem
totalmente distorcida. Não é raro que a voz se torne o pior inimigo
de nós mesmos. Muitas pessoas vivem com um torturador em suas
cabeças, que as ataca e pune sem parar, drenando sua energia vital.
Essa é a causa de muita angústia e infelicidade, assim como de
doenças.
A
boa notícia é que podemos nos libertar de nossas mentes. Essa é a
única libertação verdadeira. Dê o primeiro passo nesse exato
momento. Comece a prestar atenção ao que a voz diz, principalmente
a padrões repetitivos de pensamento, aquelas velhas trilhas sonoras
que você escuta dentro da sua cabeça há anos. É isso que quero
dizer com “observar o pensador”. É um outro modo de dizer o
seguinte: ouça a voz dentro da sua cabeça, esteja lá presente,
como uma testemunha.
Seja
imparcial ao ouvir a voz, não julgue nada. Não julgue ou condene o
que você ouve, porque fazer isso significaria que a mesma voz acabou
de voltar pela porta dos fundos. Você logo perceberá: lá está a
voz e aqui estou eu, ouvindo-a e observando-a. Sentir a própria
presença não é um pensamento, é algo que surge de um ponto além
da mente.
Assim,
ouvir um pensamento significa que você está consciente não só do
pensamento, mas também de você mesmo, como uma testemunha daquele
pensamento. Isso acontece porque uma nova dimensão da consciência
acabou de surgir. Quando você ouve o pensamento, sente uma presença
consciente, que é o seu eu interior mais profundo, por trás ou por
baixo do pensamento. O pensamento, então, perde o poder que exerce
sobre você e se afasta rapidamente, porque a mente não está mais
recebendo a energia gerada pela sua identificação com ela. Esse é
o começo do fim do pensamento involuntário e compulsivo.
Quando
um pensamento se afasta, percebemos uma interrupção no fluxo
mental, um espaço de “mente vazia”. No início, esses espaços
são curtos, talvez apenas alguns segundos, mas, aos poucos, se
tornam mais longos. Quando esses espaços acontecem, sentimos uma
certa serenidade e paz interior. Esse e o começo do estado natural
de nos sentirmos em unidade com o Ser, que normalmente é encoberto
pela mente. Com a prática, a sensação de paz e serenidade vai se
intensificar. Na verdade, essa intensidade não tem fim. Você também
vai sentir brotar lá de dentro uma sutil emanação de alegria, que
é a alegria do Ser.
Não
se trata de um estado de transe. Nada disso. Se o preço da paz fosse
a perda da consciência e o preço da serenidade, uma falta de
vitalidade e de vivacidade, então não valeria a pena. É exatamente
o oposto. Nesse estado de conexão interior, ficamos muito mais
alertas. Estamos presentes por inteiro.
Ao
penetrarmos mais profundamente nessa área de “mente vazia”, como
ela às vezes é chamada no Oriente, começamos a perceber o estado
de pura consciência. Nesse estado, sentimos a nossa própria
presença com tal intensidade e alegria que os pensamentos, as
emoções, nosso corpo, o mundo exterior – tudo se torna
insignificante comparado a ele. No entanto, não é um estado
egoísta, e sim generoso. Ele nos transporta para um ponto além do
que antes julgávamos ser o nosso “eu interior”. Essa presença é
essencialmente você e, ao mesmo tempo, muito maior do que você.
Em
vez de “observar o pensador”, podemos também criar um espaço no
fluxo da mente, direcionando o foco da nossa atenção para o Agora.
Torne-se consciente do momento. Isso é profundamente gratificante de
se fazer. Agindo assim, desviamos a consciência para longe da
atividade da mente e criamos um espaço de mente vazia, em que
ficamos extremamente alertas e conscientes, mas sem pensar. Essa é a
essência da meditação.
Na
vida diária é possível pôr isso em prática dando total atenção
a qualquer atividade rotineira, normalmente considerada como apenas
um meio para atingir um objetivo, de modo a transformá-la em um fim
em si mesma. Por exemplo, todas as vezes que você subir ou descer as
escadas em casa ou no trabalho, preste muita atenção a cada passo,
a cada movimento, até mesmo à sua respiração. Esteja totalmente
presente. Ou, quando lavar as mãos, preste atenção a todas as
sensações provocadas por essa atividade, como o som e o contato da
água, o movimento das suas mãos, o cheiro do sabonete, e assim por
diante. Ou então, quando entrar em seu carro, pare por alguns
segundos depois que fechar a porta e observe o fluxo da sua
respiração. Tome consciência de um silencioso, mas poderoso,
sentido de presença. Para medir, sem errar, o seu sucesso nessa
prática, verifique o grau de paz dentro de você.
Portanto,
o passo mais importante na caminhada em direção à iluminação é
aprendermos a nos dissociar de nossas mentes.
Todas
as vezes que criamos um espaço no fluxo do pensamento, a luz da
nossa consciência fica mais forte.
Um
dia você pode se surpreender sorrindo para a voz dentro da cabeça,
como sorriria para as travessuras de uma criança. Isso significa que
você não está mais levando tão a sério o que vai pela mente,
Pois o seu eu interior não depende dela.
O
Poder do Agora
Eckhart
Tolle
http://horacosmica.blogspot.pt/2017/12/libertando-se-da-sua-mente.html
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