quinta-feira, 20 de dezembro de 2018
Moacir Sader: A ESPIRITUALIDADE PROFUNDA DE JESUS
A
ESPIRITUALIDADE PROFUNDA DE JESUS
16
de dezembro de 2018
Muitas
vezes os aspirantes à espiritualidade não são compreendidos pelas
pessoas apegadas às crenças ortodoxas e sempre há alguma reação.
Os ensinamentos de Jesus são no intuito de que não se deve revidar
o mal, porém, a orar por quem agiu negativamente conosco. Para
estar pronto para dar a outra face, é necessário amadurecer em
termos espirituais. Somente uma alma no verdadeiro caminho da
iluminação vê Deus em todos os seres, conservando a paciência no
meio dos obstáculos da vida terrena
Este
é o enfoque visto no Sermão da Montanha, tal como detalhei no
livro Viagem à cidade espiritual de Necanerom.
Transparece outra forma de espiritualidade, aquela que enfatiza a
necessidade de o ser humano mudar interiormente, rompendo com o ego
e interligando-se efetivamente com o Deus Cósmico, o deus interior
e com todos os semelhantes.
Jesus,
certa vez, disse uma frase que resume, em importância, o tema
central de todo o Sermão da Montanha: “Sede, pois,
perfeitos, como é perfeito o vosso Pai que está no céu”. A
palavra perfeição transmite idéia de subjetividade, sobretudo, no
que concerne à perfeição divina. Onde achar a perfeição? Em que
local encontrar Deus?
Essa
procura não está distante de nós, a rigor, muito perto, em nosso
interior, em nosso Eu Superior. Quando a pessoa estiver purificada
através de sua evolução espiritual, descobrirá o verdadeiro ser
divino em seu interior. Revelar este ser espiritual interior, essa
divindade guardada no íntimo, é efetivamente tornar-se perfeito.
Essa tese não é tão absurda como muitos querem crer. Foi o
próprio Jesus que, segundo o evangelho de Lucas, disse: “O
reino de Deus não tem aparência ostensiva; nem se poderá dizer:
hei-lo aqui ou hei-lo ali! Porque o reino de Deus está dentro de
vós”.
Verdadeiramente,
o que impede de ver esta verdade, que Deus está dentro de nós, é
nossa ignorância, a falta de foco em nosso real estado, que é o
espiritual, ainda que dotados de corpo, mente e sentidos temporários
aqui na Terra. Cada pessoa atua em muitos papeis terrenos, mas,
somos, unicamente, seres espirituais.
Os
três grandes avatares, Jesus, Buda e Rama krishna não somente
manifestaram Deus, enquanto viveram seus dias terrenos, como também
insistiram para que todos façam o mesmo. No entanto, os religiosos,
na sua maioria, procuram frequentar suas igrejas e ter
comportamentos éticos em suas vidas, na esperança de serem
recompensados após a morte em face de suas boas ações. Contudo, o
ideal mais profundo de Cristo não tem sido seguido, por estar
esquecido ou até mal compreendido, qual seja, ascender
espiritualmente aqui na Terra.
Neste
sentido, muitos leitores do Sermão da Montanha acabam por não
vivenciá-lo em sua plenitude, já que Jesus, com os seus
ensinamentos, quis concretamente dizer que Deus pode ser visto na
presente existência, é possível conhecê-lo e ser perfeito
enquanto se vive na Terra como Deus é perfeito no céu.
Importante
ensinamento de Jesus foi a devoção, quando Ele disse: “Amarás
ao Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma e
com toda a tua mente.” Não quis dizer, com isso, que não
se deve amar o semelhante ou que não se deve vivenciar o amor
humano, pois, o Divino Mestre completa seu mandamento dizendo: “…e
ao próximo como a si mesmo”. Este amor deve, no entanto, ser
dado com generosidade, de forma incondicional, sem esperar
reciprocidade.
Enfatizando
a questão da causa e efeito, Jesus ensina que, ao dar
esmolas, a mão esquerda não deve saber o que faz a direita: “Que
a tua esmola seja dada em segredo: e o teu Pai, que vê em segredo,
te recompensará publicamente”. Com isso, Jesus está
destacando o efeito da recompensa por boas ações, assim como
acontece com as más ações. Nesse sentido, ele disse: “Quem
com ferro fere, com ferro será ferido”. Com isso é possível
concluir que, tanto as boas ações quanto as negativas geram
retornos futuros, o que está popularizado em nossos dias como a Lei
Kármica.
Confirmando
a existência do karma, inclusive de vidas passadas, tal como já me
referi neste livro, aqui vale a ratificação: sempre que Jesus
curava alguém, mesmo com problemas de nascença, ele dizia: “Os
seus pecados estão perdoados”. Em seguida mandava os
paralíticos andarem, os cegos verem, etc. Com isso, fica evidente
que as doenças, os problemas físicos e os psíquicos são
consequências de falhas pregressas, surgem em face da lei de Causa
e Efeito, da lei do Karma, evidenciando a existência de múltiplas
vidas e da reencarnação.
O
importante é romper com todos os vínculos kármicos, dedicando
todo o fruto do trabalho pessoal desta existência em adoração a
Deus, vivendo sem apegos. Isso não quer dizer que se deve viver com
preguiça, indiferença pelo que se faz. O desapego aqui está no
sentido oposto; constitui-se, em contrapartida, no apego a Deus, na
entrega de tudo a Deus (ao Deus Cósmico e não o do Velho
Testamento. Como está evidenciado no livro Conspiração
Interdimensional, o deus do velho testamento não é o
verdadeiro Deus).
Em
sendo assim, deve-se realizar as tarefas terrenas, buscando sempre a
perfeição, uma vez que elas serão oferecidas a Deus em adoração.
Por essa prática de entregar a Deus tudo o que se fizer, será
possível livrar-se da roda do karma (causa e efeito) e ganhar de
presente o paraíso.
Sobre
a oração, Jesus ensina-nos que esta deve ser feita em lugar
discreto, ao dizer: “E quando orardes, não sejais como os
hipócritas; porque eles gostam de orar em pé nas sinagogas e nas
esquinas das ruas para serem vistos pelos homens. Em verdade vos
digo: eles já receberam sua recompensa. Mas, tu, quando orares,
entra no teu aposento e, fechando a tua porta, ora a teu Pai que
está em oculto; e teu Pai, que vê ocultamente, te recompensará
abertamente”.
A
verdadeira espiritualidade não é exibicionista, é sagrada,
secreta. Por isso Jesus falou que não se deve fazer aparato da
adoração. A pessoa deve retirar-se para um lugar afastado,
realizar os seus pedidos em oração, na certeza que serão
atendidos. Lembre que Jesus gostava de orar sozinho nas montanhas.
Como
especial presente, Jesus ensinou uma das mais belas orações: O Pai
Nosso, contemplando os princípios fundamentais para uma vida
santificada:
Pai
Nosso… (para se fazer a conexão com Deus em
adoração) que estais no céu (o céu está para
além de um lugar físico. “Estar no céu” é perceber Deus
internamente). Santificado seja o vosso nome (quando
mais repetir o nome de Deus, atrai-se a força espiritual que o seu
nome carrega em si). Venha a nós o vosso reino (com
visão espiritual aberta é possível ver o reino de Deus
internamente, aqui e agora). Seja feita a vossa vontade,
assim na terra como no céu (a vontade de Deus é tudo que
nos conduz a Ele). O pão nosso de cada dia nos dai
hoje (esse pão é a graça divina, que precisa ser
revelada agora em cada pessoa, neste tempo existencial). Perdoai
as nossas dívidas, assim como perdoamos aos nossos devedores (todas
as dívidas kármicas serão perdoadas, quando se perdoar também os
inimigos, momento em que se é religado a Deus em adoração). E
não nos deixeis cair em tentação, mas, livrai-nos do mal: porque
vosso é o reino, o poder e a glória para sempre. Amém. (É
preciso refrear os sentidos, especialmente os que geram pensamentos
e sentimentos negativos e voltar para dentro, onde Deus se
encontra).
Como
se vê, seja nos evangelhos apócrifos, seja nos textos bíblicos,
Jesus ensinou uma espiritualidade muito mais profunda do que a que é
vislumbrada nas religiões tradicionais. Ele mostrou o amor generoso
e a compaixão por todos e o caminho para a iluminação, o
interior. “Todo aquele, pois, que escuta estas minhas
palavras e as põe em prática, assemelhá-lo-ei ao homem sensato
que edificou a sua casa sobre a rocha”. A experiência
espiritual, com base nos ensinamentos profundos de Jesus, seja na
Bíblia e, principalmente, nos textos apócrifos, é a rocha sobre a
qual se deve construir a morada, ou seja, o nosso espírito.
Luz,
amor e Conhecimento
Fonte:
Sader – Qualidade de Vida ao Seu Alcance
Luz,
Amor e Gratidão
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